Nota da Juco – O Brasil que não quebra para os capitalistas
Segundo consta no próprio site do Governo Federal [1], ainda no início da pandemia de coronavírus no Brasil – meados de março – o BC liberou cerca de 1.2 trilhões de reais para manter a liquidez da “economia”. Como muito se escuta e se fala nos meios de comunicação, o Deus Mercado, à que muitos jornalistas, especialistas e defensores do livre mercado na verdade se referem, é apenas uma parte que compõe o ciclo econômico, que é o sistema financeiro. Vale notar que, apesar do pretexto de que os Bancos jogariam o papel de realizarem empréstimos aos médios, pequenos e microempreendedores, muito pouco de fato foi liberado em forma de crédito. Em julho de 2020, três meses após o pacote, apenas 4% desse valor havia sido revertido em crédito para o setor produtivo [2]. Um ano depois, os bancos haviam emprestado somente 23,7% do montante total de 1.2 trilhões [3]. Se a justificativa era a de movimentar a economia, por que este papel não coube apenas aos bancos públicos, que são aqueles que teriam o verdadeiro objetivo de realizar políticas econômicas e financeiras que o governo julgasse pertinentes para o funcionamento da economia do país? Obviamente porque esse discurso era falso.
Enquanto a miséria aumentava, o desemprego atingia níveis históricos e a fome crescia no país, a política econômica do Governo Bolsonaro e de seu Ministro Paulo Guedes tinha o objetivo única e exclusivamente de preservar os lucros do sistema financeiro e dos rentistas parasitas do povo brasileiro que nele acumulam riqueza. Nada de diferente do que foi a política econômica do governo desde o seu início, cujas contradições já se notavam e foram realçadas com a crise econômica decorrente da inação do governo diante da pandemia de Covid-19. Enquanto o Brasil teve aumento no número de bilionários, também foi registrado aumento da miséria e da insegurança alimentar entre a população brasileira, mostrando que o projeto econômico do governo não apenas está atingindo seus reais objetivos como também não foi afetado pela pandemia. A contradição apontada pelo governo entre recuperação da economia e combate à pandemia mostra-se cada vez mais sem sentido, uma vez que a crise econômica se agrava para os mais pobres e o Brasil segue como país com maior número de mortes diárias por Covid-19.
A orientação do Governo Bolsonaro, portanto, é clara: salvamos os mais ricos e os pobres que arrisquem suas vidas – e morram, se for preciso – para garantir a sua subsistência. Não se trata apenas de falta de habilidade técnica ou mesmo de incompetência na execução de políticas públicas de combate à pandemia e a seus efeitos sobre a população, mas sim de um projeto orquestrado e executado para garantir os ganhos do sistema financeiro e a concentração de renda.
Fontes
[1] https://www.gov.br/pt-br/noticias/financas-impostos-e-gestao-publica/2020/03/banco-central-anuncia-conjunto-de-medidas-que-liberam-r-1-2-trilhao-para-a-economia
[2] https://auditoriacidada.org.br/bancos-recebem-r-12-trilhao-do-banco-central-mas-so-4-disso-vira-aumento-de-emprestimos-para-pessoas-e-empresas/
[3] https://www.jb.com.br/colunistas/o-outro-lado-da-moeda/2021/03/1029111-um-ano-de-pandemia-bancos-so-emprestam-237–do-que-bc-liberou.html