Nota da Juco – Punição ao genocida e vacina para o povo já!

Na melhor das hipóteses, até julho deste ano, o Brasil deve atingir a cifra de 500 mil mortos pela COVID-19. Ao observar as medidas adotadas por outros países e levar em conta a estrutura do Sistema Único de Saúde, o desempenho do desgoverno de Jair Bolsonaro na condução da pandemia aponta para um único cenário: o genocídio. Para além do deboche das mortes, das aparições públicas em aglomerações sem máscara, da negativa em adotar o Lockdown Nacional e gerar as condições econômicas para que a classe trabalhadora pudesse se manter em segurança, em diversas ocasiões, Jair Bolsonaro e apoiadores não foram apenas incompetentes, como também negligentes, o que é claramente elucidado ao observar o processo de aquisição dos imunizantes capazes de frear a disseminação do vírus no Brasil. Ou seja, o genocídio não corresponde a outra coisa senão a um projeto.

 O desprezo do Governo Federal em relação à vida dos brasileiros é evidenciado não apenas nas falas anti-vacina proferidas pelo presidente, que minimizam o papel crucial da imunização na contenção da pandemia, como também nas próprias escolhas da gestão que de todo o modo evitou adquirir as doses. Como efeito, a vacinação no Brasil é consequência de infindáveis improvisações, o que faz com que o país tenha iniciado tardiamente a campanha de imunização. Nesse contexto, a própria Organização Mundial da Saúde reconhece que no estágio atingido pelo país, a vacinação em massa pode ainda assim não ser suficiente para conter o coronavírus no Brasil.

Os países que se encontram mais avançados na vacinação firmaram acordos para adquirir as doses ainda em 2020. A Argentina, mesmo arruinada por causa da crise gerada pela gestão neoliberal de Mauricio Macri, começou em dezembro de 2020 porque negociou com antecedência. Por sua vez, o Brasil vinha recebendo propostas da Pfizer desde agosto do ano passado, as quais foram rejeitadas em mais de uma ocasião, inclusive aquela que oferecia a concessão de 3 milhões de doses até dezembro do ano passado. Ao mesmo tempo, Bolsonaro proferia “não à vacina chinesa”. Curiosamente, embora pelo 2° mês consecutivo a meta de vacinação do Ministério da Saúde não tenha sido atingida, a China é a maior fornecedora de vacinas e insumos para sua produção no Brasil, de modo que 70% dos imunizados receberam doses de Coronavac.

A história mostra-se repleta de momentos em que um investimento massivo em políticas de prevenção foram cruciais para driblar crises sanitárias. No caso do revolucionário Thomas Sankara, que ao assumir a presidência de Burkina Faso (país então com um dos maiores índices de mortalidade do mundo por doenças infecto-parasitárias), iniciou uma campanha de vacinação contra febre amarela, sarampo e meningite, que dentro de 3 semanas imunizou mais de 80% da população jovem do país. Um ano após iniciada, todas as crianças de Burkina Faso de 0 a 5 anos já estavam protegidas. O esforço histórico do povo burquinense sob a gestão de Sankara foi reconhecido mundialmente, especialmente por mostrar como a gestão responsável e comprometida pode driblar desafios históricos.

O próprio Brasil, por meio da estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS), mostrou-se em mais de uma ocasião como um exemplo no controle de epidemias. Em 2007, na segunda gestão de Lula, o país quebrou a patente de Efavirenz, medicamento usado no tratamento de HIV. Tal medida ocasionou a redução de 70% do valor do remédio, o que fez do Brasil o líder mundial no combate a AIDS. Hoje, em mais uma decisão contra o próprio povo e a favor da subserviência ao Norte Global, o Brasil se posiciona em oposição à proposta submetida pela África do Sul e pela Índia (dois membros do BRICS, sendo a Índia fundamental para a produção de vacinas que serão empregadas em território nacional) na OMC (Organização Mundial de Comércio), em favor da quebra de patentes de vacinas e terapias eficazes contra a COVID-19, o que possibilitaria a ampliação da produção desses bens que hoje encontram-se em escassez.

Foi como reação à carta assinada por representantes da alta burguesia brasileira (banqueiros, empresários e economistas liberais) cobrando o controle da pandemia como epicentro da retomada econômica, que a cúpula genocida passou  a ampliar acordos para a compra das doses de imunizantes. Prova disso foi o país ter se tornado signatário do Consórcio COVAX da OMS para a disponibilização de vacinas à população apenas em março de 2021, podendo tê-lo feito em setembro de 2020; ou ainda ter se empenhado na elaboração de um novo programa de auxílio emergencial, mesmo de menor valor e incapaz de contemplar um número suficiente de brasileiros apenas recentemente. Uma vez mais, fica evidente o caráter de classe do Governo Bolsonaro. Não foram os mais de trezentos mil brasileiros mortos ou os milhares de pequenos comerciantes e manufatureiros falidos que motivaram uma reação. Em vez disso, foi o risco da burguesia retirar o que restou de seu apoio ao projeto bolsonarista que fez com que o próprio presidente, inclusive, voltasse atrás em seu discurso e aceitasse a possibilidade de se vacinar.

O desastre econômico em que culminou a situação epidemiológica fora de controle já era previsto, tendo sido largamente discutido por estudos inclusive realizados pelo Exército Brasileiro, nos quais foi possível prever com antecedência as mazelas que hoje enfrentamos na prática. Assim, a classe dominante caiu em si. Não se explora a força de trabalho de quem está morto. Não se recupera o salário pago de quem não pode mais comprar o resultado da própria produção. Não se lucra com o desabastecimento nacional como efeito de fronteiras restritas. Assim atua a elite econômica: cega diante das condições do trabalhador, atenta a qualquer centavo que deixa de entrar em seu bolso.

Como se não bastassem tais indicativos de que a importância das vidas daqueles que constituem a classe trabalhadora varia à medida que importa para os processos de acúmulo de capital, os parlamentares de direita posicionaram-se favoravelmente à compra privada de vacinas. De novo, “os representantes do povo” mostram a quem representam. De que forma pode ocorrer melhora das condições sanitárias se o patrão passa a poder vacinar os seus funcionários, ou seja, aqueles que pela venda de sua força de trabalho serão responsáveis por gerar o lucro, em detrimento da imunização de desempregados, aposentados e funcionários públicos?

Aos que não forem abençoados pela generosidade sanguinária da burguesia nacional, restam a cloroquina, a ivermectina e a sorte. A empreitada de emplacar uma “solução milagrosa” em vez de comprometer-se com o manejo sério da epidemia tornou-se a máscara que mais uma vez cai e mostra a face da incompetência de Bolsonaro e aliados.

Enquanto faltam seringas, sobra remédio para piolho. Enquanto falta capacitação de profissionais, sobram doses desperdiçadas. Enquanto sobra genocídio, falta presidente. Não aceitaremos. Mais do que nunca, é hora de lutar.

 

Punição ao genocida e vacina para o povo já!

 

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