Defender os Direitos Sociais e o Projeto Ético-político do Serviço Social Diante da Ofensiva da Extrema-direita

Contribuição ao XVI Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais | 40 Anos Da Virada

Somos assistentes sociais presentes em diferentes regiões do país, atuando nos espaços da formação e da ação profissional. Reivindicamos todo o legado da intenção de ruptura e da apropriação profunda do método marxiano para a compreensão e transformação da realidade social. Não acreditamos que a atualização consequente de nossas análises e projeções políticas deva se dar reproduzindo o anticomunismo e incorporando as críticas superficiais e desonestas do pós-modernismo ao marxismo.

Não confundimos a institucionalidade e a relativa autonomia profissional com a militância político-partidária, embora saibamos que essas dimensões se relacionam reciprocamente. Reconhecemos a importância de ambas e compreendemos a necessidade de fazermos as mediações para que se possa aproveitar a potencialidade de cada espaço. Ainda mais em uma conjuntura que impõe a capacidade de desprendimento por uma unidade superior em defesa dos direitos sociais e do espaço público.

Reivindicamos, com seus erros e acertos, todas as lutas e experiências históricas protagonizadas pelo proletariado que enfrentaram o capitalismo, o imperialismo, o fascismo e o colonialismo ao longo do século XX, reconhecendo a imensa contribuição do movimento comunista internacional para a luta das mulheres e para a luta antirracista. Trajetória que é hoje ocultada ou distorcida por aqueles que buscam fazer com que os explorados e oprimidos desconheçam sua história de lutas e conquistas.

Não acreditamos que é um “mero detalhe” defender um internacionalismo que seja capaz de ser solidário com os povos do mundo contra todos os ataques e intervenções imperialistas. Somos solidários à Revolução Socialista Cubana, aos processos bolivarianos na Venezuela e Bolívia, ao processo sandinista na Nicarágua e apoiamos os levantes populares contra a política pró-imperialista da direita radical no Chile, Argentina e Equador.

Reconhecer os limites do lulismo e do projeto “pseudo-desenvolvimentista” do PT para nós não é novidade. Luiz Carlos Prestes, nos anos 1980 após sua ruptura com o PCB, já explicava que o PT, embora tivesse uma base proletária, era dirigido por setores médios que não possuíam uma ideologia proletária e uma apropriação profunda do marxismo. Tratando-se, portanto, de um partido burguês como qualquer outro. Essa análise realista, porém, não significava para Prestes a defesa de um esquerdismo inconsequente. Tanto que Prestes apoia a candidatura à deputado de Florestan Fernandes e apoia Lula no segundo turno contra Fernando Collor em 1989.

Superar os limites do lulismo e do projeto petista significa para nós fazer com que as próprias bases populares sejam capazes de elevar seu nível de organização e consciência para forjar legitimamente novas referências com um projeto mais avançado e mais radical. Na atual conjuntura isso não acontecerá reproduzindo o obsessivo “antipetismo” que hoje é propagado por setores que durante décadas estiveram no PT. Nossa prioridade não pode ser atacar o petismo como se este ainda estivesse no governo. Essa postura se assemelha a “simples negação” que permanece “condicionada pelo objeto de sua negação”. Tudo gira em torno de negar o PT e cobrar que o PT faça o que deveríamos estar fazendo.

Sabemos perfeitamente que não estamos à beira de uma situação revolucionária no Brasil. Ao contrário disso, percebemos com preocupação a força que as ideias da direita adquiriram na base da sociedade brasileira e inclusive dentro da própria classe trabalhadora. Não desprezamos a importância dos processos eleitorais como momento de disputa política acerca dos rumos que a sociedade deve seguir, mas é inaceitável admitir o livre desenrolar de um governo como o de Jair Bolsonaro até que chegue a próxima eleição e, quem sabe, possamos ter melhor êxito do que na eleição passada. Até porque tem coisas que nenhuma eleição poderá reverter.

Acreditamos que é preciso forjar um projeto estratégico para a construção do socialismo no Brasil, e isso passa por derrotar o bloco de forças sociais composto pelo latifúndio (mais moderno ou mais atrasado), pelos monopólios e pelo imperialismo. Não se pode ter ilusão e nenhuma aliança com estes setores, seja no campo econômico ou na esfera política. É preciso disputar política e ideologicamente na base da sociedade por este novo projeto, o que compreende também fazer todas as batalhas em defesa das pautas imediatas pelos direitos, pela manutenção e ampliação das políticas sociais e pelo acesso à vida digna para o conjunto das classes trabalhadoras.

Construímos a Intersindical – Central da Classe Trabalhadora como instrumento autônomo, combativo e capaz de unificar os explorados e oprimidos, com ou sem emprego, sindicalizados ou não, para forjar a luta contra o capital e superar a fragmentação e a conciliação. Por meio da Intersindical também construímos a Federação Sindical Mundial – FSM, como ferramenta da classe trabalhadora em nível internacional na luta contra o capitalismo e o imperialismo.

Nos marcos dos 40 anos da “Virada” do Serviço Social, acreditamos que nossa categoria deve potencializar sua organização em todos os espaços, institucionais e extra institucionais, buscando as mediações capazes de vincular a ação pontual com a formação de um verdadeiro bloco das forças populares que tenha o proletariado como força dirigente.

 

Assinam:

Bianca Moutinho. Assistente Social Residente da Escola de Saúde Pública/RS

Carine Fernandes. Assistente Social do Grupo Hospitalar Conceição/RS – Sindicalista e integrante da Associação dos Servidores do Grupo Hospitalar Conceição

Davi Machado Perez. Assistente Social e Professor do Curso de Serviço Social da Universidade Federal do Tocantins

Eglê Ângela Ronsoni. Assistente Social da Escola de Saúde Pública/RS e integrante da direção do SINDSEPE/RS

Elsa Roso. Assistente Social da Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul e integrante da direção do SINDSEPE/RS

Fábia Moura Silveira. Assistente Social do Hospital Santa Ana – Porto Alegre/RS

Rodrigo Fernandes Ribeiro. Assistente Social e Professor do Curso de Serviço Social da Universidade Federal de Ouro Preto

Vivian Patrícia Haviaras. Assistente Social da Secretaria da Saúde de Santa Catarina e integrante da direção do SINDSAÚDE/SC

Unidade Popular e Sindical – UPS

Unidade Comunista Brasileira – UCB

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