As lições do Equador para o movimento estudantil brasileiro

 Nos últimos anos, em boa parte da América Latina, se firmaram governos neoliberais apoiados pelo imperialismo estadunidense. Esses governos vêm com o objetivo de entregar as riquezas nacionais, acabar com as conquistas históricas da classe trabalhadora e destruir o setor público, sobretudo nas áreas onde os países da região tem projetos próprios de soberania.

Como sempre acontece, essas políticas voltadas para o mercado financeiro internacional só trouxeram mais miséria. Isso gera a indignação do povo, e motiva a formação de movimentos de luta e resistência. Na Colômbia, estudantes e trabalhadores constroem massivas greves contra os ataques do governo corrupto, terrorista e narcotraficante de Ivan Duque. Na Argentina, com a atual economia destruída, não é a toa que as pesquisas eleitorais agora apontem para a derrota do neoliberal Macri para uma aliança de centro-esquerda.

E mesmo em países em que a correlação de forças tem outra configuração, o imperialismo não consegue obter vitórias diante da organização popular. Na Nicarágua, a tentativa de golpe só fracassou porque continua viva na memória dos nicaraguenses o que foi a crise econômica, a inflação e o desemprego dos anos de governos da direita. O mesmo acontece na Venezuela, onde o povo rechaça completamente Juan Guaidó e se mostra disposto a defender sua pátria, inclusive militarmente, contra qualquer intervenção estrangeira.

No mais recente ataque imperialista, o presidente equatoriano Lenin Moreno, traidor de seu povo e de seu antecessor Rafael Correa, tentou implementar o pacote de medidas neoliberais do Fundo Monetário Internacional. Entre essas, estava uma reforma da previdência, o fim do subsídio ao combustível e diversos ataques ao setor público.

Não há como negar a semelhança entre essas medidas e a política adotada pelo governo Temer e Bolsonaro no Brasil. Há, entretanto, uma diferença clara: a reação popular. O Equador foi transformado em uma verdadeira zona de guerra pelos embates entre a polícia e os manifestantes. Comunidades indígenas de todo país marcharam rumo à Quito para se juntar aos protestos de trabalhadores, estudantes e campesinos. Isso demonstra o nível de organização no qual se encontra a sociedade equatoriana.

Entretanto, a maior lição a ser tirada da revolta no Equador pelo nosso movimento estudantil é ainda mais visível: a forma de se lutar. Não há como um estudante brasileiro, que já tenha comparecido a um protesto estudantil que seja, não se admirar com as imagens que chegaram a nós através das redes sociais e da Telesur (um dos raros canais a cobrir de forma honesta os acontecimentos). Como pouquíssimas vezes, se viu tropas de choque, fortemente armadas e equipadas, recuando. Prédios públicos tomados à força. Algumas alas do próprio exército se recusaram a ir contra a massa de manifestantes. Com medo da inegável força popular, o presidente foi obrigado a fugir da capital e se abrigar em uma base aérea em Guayaquil, onde se viu forçado a negociar com o povo, voltando atrás no decreto 883 e estabelecendo uma comissão de diálogo.

Os protestos em Porto Alegre parecem seguir um rumo diferente. Tivemos, sim, números impressionantes nos atos estudantis dos dias 15 e 30 de maio. Apesar da importância e grandiosidade desses momentos, como explicar que os cortes na educação tenham continuado e inclusive se aprofundado?

Assim como as imagens do recuo policial no Equador, algumas imagens no Brasil também impressionam. Em clima de festa, diversos jovens se reúnem para cantar e dançar em meio às reivindicações, que nem sempre são muito claras. Há ainda os tradicionais carros de som, em que as organizações estudantis e forças políticas se revezam para deixar sua mensagem para um público que já não se interessa mais em ouvir os mesmos discursos vazios. Após isso, o caminhão puxa uma caminhada, com toda a alegria das “canções de luta”. Atrás dele, as diversas forças do movimento estudantil brigam ferozmente para ter sua bandeira ou faixa à frente, saindo em uma bela foto na grande mídia, podendo assim dizer que são os responsáveis pela manifestação. O ato continua, então, seguindo o mesmo caminho de sempre. Atravessa a Borges de Medeiros, chega à Cidade Baixa, bairro mais boêmio da cidade, onde se inicia o extremamente combativo grito de “quem apoia pisca a luz” (garantindo, assim, que até mesmo sair de casa para se manifestar seja desnecessário) e finaliza no Largo Zumbi dos Palmares. Antes de cada jovem militante seguir para o seu bar favorito, as lideranças de carro de som afirmam: “Bolsonaro está morrendo de medo dos estudantes!”. Ao chegar em casa, se descobre que o medo é tanto que um novo corte foi anunciado.

Não se tem por objetivo desqualificar nenhum modo de luta ou corrente de pensamento. É, porém, impossível negar que algo está dando extremamente errado. Os protestos não surtem mais efeito nenhum. Se percebe ainda um esvaziamento maior em cada ato. Por um lado há sim a acomodação de grande parte da juventude. Por outro, não é estranho que o jovem estudante, principalmente aquele que vêm de uma jornada de trabalho exaustiva, se recuse a ir para uma verdadeira festa, com pouquíssimos resultados concretos, promovida no centro da cidade.

Assim, que nos sirva de inspiração o movimento dos equatorianos. Que cada jovem, insatisfeito com as políticas burguesas que nos assolam, aceite a difícil tarefa de construir um movimento verdadeiramente revolucionário. Que não aceitemos esperar as próximas eleições para que as coisas mudem. Que nossa juventude jamais aceite comemorar derrotas sucessivas em nome da “alegria do jovem”, que deve sim existir, mas sempre ao lado do espírito de luta. Que o enfrentamento à política neoliberal seja real e prático, e não apenas retórico. Que nós, jovens, façamos crescer a vontade dos trabalhadores, dos indígenas, dos campesinos e dos militares e policiais que decidirem ficar do lado do povo de lutar conosco, ombro a ombro, rumo à verdadeira vitória.

VIVA O POVO EQUATORIANO!

E QUE SUA LUTA NOS SIRVA DE EXEMPLO!

Coordenação Estadual da Juventude Comunista Brasileira – Rio Grande do Sul

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