Com Prestes, Pelo Socialismo
by UCB · Published · Updated
À diferença de outros, que vindo “de baixo” conciliam com “os de cima” em nome do “realismo”, da “governabilidade” ou “do possível”, Prestes pertencia às classes médias e renuncia a essa condição para firmar até o fim de sua vida o compromisso intransigente com os mais profundos interesses das massas trabalhadoras do campo e da cidade. É conhecida a sua renuncia a ser chefe militar da assim chamada “Revolução de 30”, liderada por Getúlio Vargas, denunciando-a como uma falsa revolução e um engodo para a maioria do povo. Tivera a oportunidade de ter sido um dos “grandes da República”, e escolheu construir a luta desde baixo, com os de baixo e para os de baixo, marca que ressalta sua idiossincrasia humana e política.
Num momento da vida política brasileira em que as próprias bases de partidos de trabalhadores cobram o exercício da autocrítica de suas cúpulas dirigentes, não é acessório lembrar outro traço da personalidade política de Prestes: a autocrítica. Autocrítica não como autopunição moralista ou recurso demagógico para justamente dissimular uma verdadeira correção de caminhos, mas como e enquanto compromisso ético-político e instrumento de análise da realidade para corrigir rumos, levando à eficácia dos objetivos e a vitória na luta. Nesse sentido, os exemplos na vida de Prestes são exaustivos, e poderíamos nos fixar em dois. O primeiro é o exílio na Bolívia e na Argentina após a condução da Coluna. Foi no final da década de 1920 que Prestes, ainda um patriota rebelde e democrata radical, em contato com o marxismo, reconhece o limite das reinvidicações tenetistas e a falta de um projeto social amplo daquela marcha. Outro momento emblemático, em março de 1980, foi sua famosa “Carta aos Comunistas”, em que na condição de secretário geral do PCB teve a iniciativa de assumir a responsabilidade dos erros do partido, pela análise estratégica equivocada da realidade, levando o partido a caudatário da dominação burguesa no Brasil. Assim, não há razão alguma para eximir-se de autocrítica, justificada para não nos “fragilizar perante a direita”. A autocrítica é a única possibilidade de adequar a luta em direção à vitória e recuperar a confiança das massas populares na direção correta das mudanças.
Talvez a mais importante diferença da liderança política de Prestes tenha sido a seriedade com que levou não só os compromissos com sua classe (no que poderíamos sem dúvida classifica-lo como um “intelectual orgânico”, conceito cunhado pelo revolucionário sardo) mas também a importância que dá ao aprimoramento teórico e a sofisticação intelectual, e o domínio do que ele chamava de “teoria do proletariado”. O socialismo proletário revolucionário de perspectiva marxista passou a ser o ângulo a partir do qual deu coerência a sua ação política. Num momento em que as massas populares, o campo político popular e as esquerdas encontram-se atualmente acuadas pela ofensiva política e ideológica protofascista, e desorientadas do caminho preciso a seguir, recuperar o passado de nossas lutas é necessário para corrigir rumos. Brasileiras e brasileiros somos herdeiros se uma tradição de luta potente e por isso sistematicamente esquecida, falsificada e mistificada pelos “donos do poder”.
Porém, apesar de todos os elementos e características que o singulariza como figura política, histórica e humana, Prestes enquanto indivíduo é a expressão da luta de uma classe, de um novo bloco histórico potencial e possível de ser construído. Sua luta não foi a de um homem só: foi e é a luta de milhões de brasileiros. Da Coluna à luta pela revolução brasileira, Prestes infundia esperança ao desespero de massas miseráveis, do movimento operário, do movimento da juventude e estudantil. Não por acaso – a revelia de sua vontade e imagem contra a qual lutava para ver-se livre de todo “culto a personalidade” – por onde passava o chamavam de o Cavaleiro da Esperança. Bem traduzira Florestan Fernandes, na ocasião de sua morte, chamando-o de “o herói sem mito”. Da vida atribulada, desde os sacrifício na marcha da Coluna, da deportação por Getúlio Vargas de sua companheira grávida, a revolucionária internacionalista Olga Benário, a Hitler; por quase uma década de prisão em regime de solitária sob o regime do Estado Novo, das lutas no parlamento, dos anos de clandestinidade sob a ditadura militar, do exilio e das lutas para a construção de um partido revolucionário de novo tipo, Prestes foi o herói que “não forjou o pedestal de sua glória”. Figura humana, na função particular de dirigente revolucionário do movimento proletário, espelhou nesse nível os valores da honestidade (reconhecida, inclusive, por seus inimigos e detratores), da abnegação, do sacrifício, da tenacidade e coragem tão peculiares aos de baixo em suas lutas codidianas. A exemplos de figuras da América Latina como Simón Bolívar, Farabundo Martí, Sandino, Salvador Allende, Manuel Rodrigues e tantos outros, o legado patriótico e revolucionário de Prestes nos oferece as bases político-ideológicas de reconstrução da Nação. Como afirma Bruno Altaman, Prestes é “o pai da pátria”, de uma nova pátria ainda a ser construída.
Nesses termos, compartilhamos o vídeo em anexo para uma honesta introdução à vida de Prestes. Intelectual do PT, Altman, com algumas imprecisões – como afirmar que Prestes foi filiado ao PDT, fato que não ocorreu, apenas recebeu um título honorífico desse partido – fez uma honesta e sintética introdução.
Ademais, é uma tarefa urgente, assim como a luta nas ruas, a luta econômica e política, travar uma luta ideológica, em que se recupere a história de luta do povo, seus erros e acertos, a tradição de seus valores e memórias, das lutas anti-imperialistas, contra o latifúndio e os monopólios.
Parafraseando a evocação aclamativa do povo por onde passava Prestes: de norte a sul, de leste a oeste, hoje lembramos de Luiz Carlos Prestes! Mais que isso, junto com “os de baixo”, assumimos como nossas a herança de lutas passadas legada por Prestes para hoje reconstruir a esperança no Brasil.