Ataque ao Irã: a estupidez da extrema direita só pode criar caos e barbárie
A Unidade Comunista Brasileira – UCB se solidariza ao povo iraniano, ao povo iraquiano e com todos os povos da região e do mundo que lutam contra a exploração e a violência imperialista. Repudiamos o ataque traiçoeiro e criminoso perpetrado pelo governo dos Estados Unidos da América que assassinou, em território iraquiano, o general iraniano Qassem Soleimani e diversos outros militares das organizações de resistência ao intervencionismo imperialista na região. As vítimas deste atentado foram fundamentais na derrota do Estado Islâmico na Síria e no Iraque, o que demonstra mais uma vez os interesses espúrios dos países imperialistas capitaneados pelos EUA na manutenção dos conflitos na região como meio de controlar e explorar os povos e suas riquezas.
Repudiamos com a mesma veemência as declarações de conivente vassalagem do presidente brasileiro Jair Bolsonaro. A posição de Bolsonaro, justificando o ataque terrorista dos Estados Unidos contra o comboio com autoridades e lideranças militares do Irã e do Iraque, indica o grau de comprometimento político e ideológico do atual governo brasileiro em relação à extrema direita dos Estados Unidos. O Brasil, depois do golpe de 2016 e mais ainda sob o governo Bolsonaro, está no momento histórico mais degradante dos últimos 100 anos em termos de subordinação aos interesses do imperialismo. Bolsonaro e o seu núcleo irracionalista e “terraplanista” têm afeição febril pela liderança de Donald Trump.
O ataque comandado diretamente por Donald Trump foi uma ação terrorista, visto que não existe guerra declarada entre Estados Unidos e Irã ou Iraque, da mesma forma que os militares mortos não estavam em operação de ataque a qualquer alvo civil ou militar dos Estados Unidos ou aliados. É ponto pacífico no direito internacional que não existe legítima defesa preventiva, e o argumento neste sentido não passa de uma cínica tentativa de justificar atos criminosos. Fica claro que o governo dos Estados Unidos e o Pentágono cometeram mais de um crime pois, além dos assassinatos, rasgaram a legislação internacional no que tange à soberania do Iraque. Resolveram matar autoridade militar do Irã e lideranças do Iraque dentro deste país, o que não encontra respaldo em nenhuma resolução e em qualquer acordo com o Iraque. Ademais, não podemos esquecer o histórico de rapinagem do petróleo e agressões militares dos EUA e aliados europeus contra o povo iraniano, como no golpe de estado de 1953 financiado por ingleses e estadunidenses contra o governo democrático e nacionalista de Mohammad Mosaddeq. Mosaddeq foi responsável pela defesa intransigente da soberania e autodeterminação do povo iraniano e por profundos avanços em termos de liberdades civis, direitos sociais e nacionalização de empresas estratégicas.
O assassinato do general iraniano Qassem Soleimani e de líderes de movimentos armados do Iraque aumenta a temperatura da situação política mundial. Se não inicialmente uma guerra declarada, este episódio vai aumentar os casos de ações violentas mútuas, tanto de grupos islâmicos contra alvos do ocidente, quanto de militares dos EUA e aliados contra alvos dos países muçulmanos não alinhados aos interesses dos monopólios internacionais, sejam estes alvos militares ou civis. Evidente que esta escalada de violência pode levar a uma guerra aberta entre Estados Unidos e Irã, e envolver outros países no conflito. O Oriente Médio já é uma região instável há vários séculos, e, nas últimas décadas, o nível de violência na região foi intensificado pela política agressiva do imperialismo dos Estados Unidos, que tem o respaldo dos países imperialistas da Europa, como Inglaterra, Alemanha, França.
Importante ficar claro que os países imperialistas europeus são cúmplices dos Estados Unidos em todas as agressões que este já perpetrou no Oriente Médio, desde a primeira guerra do Iraque (1991), passando pela segunda guerra do Iraque (2003), até as violações e destruição dos governos do Afeganistão, da Líbia, das tentativas de destruição da Síria. E são cúmplices porque comungam do desejo de dominação econômica ou mesmo da necessidade efetiva de ter acesso (pelo menor preço possível) ao petróleo, o que é uma questão de vida ou morte para vários países europeus. Esta necessidade concreta de petróleo faz a liderança política de diversos países europeus reféns da política intervencionista e armamentista dos Estados Unidos, e além disso tem os interesses econômicos dos monopólios destes países.
A própria guerra é um dos setores mais importantes da economia capitalista de hoje. Ao tempo que estes episódios e a possibilidade de mais guerras provocam angústia e desespero na maioria das pessoas, não se pode esquecer que a indústria bélica dos Estados Unidos e dos países imperialistas aliados já está ganhando mais dinheiro depois deste último ataque ao Irã e ao Iraque. Da mesma forma, legiões de mercenários e organizadores de hordas paramilitares, gente da pior espécie, elevam o preço dos seus serviços para o cometimento de mais genocídios contra qualquer povo oprimido do mundo. A guerra é um aspecto importante da política econômica do sistema capitalista em crise. O que para a maioria dos povos é um horror, para diversos e influentes monopólios capitalistas é um lucrativo negócio. E os governos que provocam as guerras, agem para satisfazer os interesses destes monopólios, que financiam suas campanhas.
Para Bolsonaro e o núcleo irracionalista de seu governo, cometer crimes sórdidos em qualquer parte do mundo, colocar em risco a vida de milhares ou milhões de pessoas é plenamente justificável se for para ajudar na reeleição do atual presidente dos Estados Unidos. Também porque o futuro deles está vinculado a um futuro êxito da extrema direita estadunidense. Eles estão entregando todas as empresas públicas para os monopólios privados dos países imperialistas, além dos recursos naturais estratégicos, como petróleo, minérios em geral, as águas, as terras, a biodiversidade, a Amazônia inteira. Estão destruindo o serviço público que, mesmo com todos os percalços e sucateamento, é o que assegura até aqui a unidade nacional e a sociabilidade que permite nos identificar como povo. Bolsonaro, com apoio de toda a direita e com o vacilo claudicante de partes consideráveis do campo popular, está liquidando o patrimônio, os direitos e o potencial de desenvolvimento que a classe trabalhadora brasileira construiu em mais de um século, apesar e contra a maioria dos governos que tivemos. Não é à toa que Bolsonaro se alinha com a postura cínica e assassina do imperialismo dos Estados Unidos, o que o faz em sintonia com toda a extrema direita internacional, relinchando para os valores do humanismo, do iluminismo e mesmo para as resoluções multilaterais das nações unidas, organismos historicamente hegemonizados pelos países capitalistas.
Aqui no Brasil, nosso dever é manifestar apoio aos que lutam por justiça, repudiar os que aviltam a dignidade das pessoas e dos povos, além de seguir trabalhando, quiçá com mais êxito, para organizar o nosso próprio povo, construindo organizações e programas políticos que possam nos livrar do governo de extrema direita e abrir caminho para um projeto de poder popular que seja referência em termos de valores humanitários. Destruir as relações sociais capitalistas e construir o poder da maioria do povo contra os exploradores no processo de transição socialista, é o caminho necessário para livrar a humanidade da barbárie.
Brasil, 7 de janeiro de 2020.
Unidade Comunista Brasileira – UCB